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       No concelho de Coruche, em 1881, existiam dois hospitais, ambos administrados pelas Misericórdias de Coruche que tinham a seu cargo todo o território do concelho e mais de 7600 pessoas.

       Nesse mesmo ano foi criado um partido médico para a vila do Couço, localizada a cerca de 25km da sede do concelho, que servia igualmente os lugares de Santa Justa e Nossa Senhora do Peso, uma vez que a freguesia rural do Couço era a mais importante do Concelho.

       Foi nesta altura que o Dr. António Maria Henriques da Silva (16/07/1853), ingressou na Povoação de Santo António do Cousso, como era chamada a freguesia, para exercer Medicina.

         Quem era o Dr. António Maria Henriques da Silva?

     

      António Maria Henriques da Silva era o segundo de quatro filhos do casal, Dr. António Joaquim Alves da Silva, Presidente da Câmara Municipal da Pampilhosa da Serra, em Coimbra e Maria Rita Henriques de Mattos, natural de Góis, em Coimbra.

        O seu irmão mais velho: José Maria Henriques da Silva (d.n.31/01/1851), era bacharelado em Direito e foi o presidente da Câmara Municipal da Pampilhosa da Serra de 1874 a 1879 e administrador do dito concelho de 1881 a 1883.

        Mais tarde foi nomeado Conservador do registo privativo de Benavente e Administrador do conselho de Benavente, passando daí em diante a ser tratado, tanto ele como toda a sua família, como os “Benaventes”, sendo ainda hoje conhecidos por esse nome.

       Com a implementação da República, o Dr. José Henriques da Silva, deixou os cargos que desempenhava em Benavente, mudando-se para Santo António do Couço, onde até então vivia o seu irmão António Maria Henriques da Silva.

    Os seus outros dois irmãos eram Maria da Piedade Henriques da Silva e Francisco Henriques da Silva.

       O Dr. António Maria Henriques da Silva, com Bacharel em Filosofia e Matemática e grau de Doutor em Medicina, formado na Universidade de Coimbra, era conhecido como um estudioso permanente, meticuloso e inteligente.

       É o autor das obras “Estudo da infecção purulenta”(1890) e “Tuberculose externa e o seu tratamento”(1891).

      Em 24 de Abril de 1884 casou com a Sra. D. Maria Salomé Garcia, filha de António Garcia e Maria Antónia Ribeiro, passando esta a chamar-se Maria Salomé Garcia e Silva.

      Em 1887, o casal inaugura o então Hospital de Santo António do Couço que recebe apoio da Conferencia de S. Vicente de Paulo e seu irmão mais velho.

     Este Hospital estava dividido em duas partes, no lado direito era a residência do médico e do lado esquerdo, tinha a enfermaria; o consultório e alguns quartos para internamento de doentes. Na sua frente, oito arcos de pedra mármore que faziam sobra todo o ano e uns acentos grandes de madeira onde os pacientes aguardavam as suas consultas, neste que era hospital; maternidade; berçário; asilo… Uma autêntica obra de beneficência.

      Este hospital albergava na sua enfermaria muitos doentes e não só, também os mais necessitados eram aqui recebidos, os sem abrigo e os familiares dos pacientes que vinham de longe e não tinham onde ficar. O espaço foi-se tornando cada vez menor para acolher tanta gente.

 

      Ocorrente da situação, a Senhora D. Maria Caneira da Conceição Trovisco Garcia que nunca casou nem teve filhos e ainda familiar da Sra. D. Salomé, cede um dos seus edifícios para que seja anexado ao Hospital, um asilo.

       Em 1904, este asilo passa a chamar-se Lar de S. José e era a própria D. Conceição a responsável pelo pagamento dos ordenados a quem lá trabalhava.

       O casal Dr. António Maria Henriques da Silva e Sra. D. Maria Salomé Garcia da Silva, tiveram 4 filhos: o Dr. Alberto Garcia Henriques da Silva, autor do livro “Monografia de Santo António do Cousso”; D. Maria Irma Garcia Henriques da Silva; Dr. António Garcia Henriques da Silva e D. Antónia Garcia Henriques da Silva.

       A Filha Maria Irma Garcia Henriques da Silva, casou-se com o seu primo direito, António Ribeiro Henriques da Silva, filho do Dr. José Maria Henriques da Silva e tiveram cinco filhos:

        - Maria da Imaculada Garcia Henriques da Silva;

        - Maria Irma Garcia Henriques da Silva;

        - José António Maria Henriques da Silva;

        - Maria do Carmo Garcia Henriques da Silva;

        - E António José Maria Garcia Henriques da Silva.

        Em 1914, aos 61 anos, o Dr. António Maria Henriques da Silva deixa a Senhora sua esposa viúva e esta acaba por doar o Hospital para a paroquia. Dois anos mais tarde, em 1943, o Hospital passa a exibir no arco da sua entrada, as letras do nome “Hospital Paroquial de Santo António do Couço”, pelas mãos de António Mendonça Rijo.

       Contam os populares que as “Benaventes”, filhas do casal de primos Dr. António Ribeiro Henriques da Silva e Maria Irma Garcia Henriques da Silva, iam a certos proprietários de carros de bois e carroças, mais tarde tratores e oralmente, lhes designavam onde ir pedir donativos para o Famoso cortejo de Caridade que se realizava em Novembro.

        Estes homens, decoravam os seus transportes com fitas coloridas e iam de porta em porta pedir doações para o Hospital.

        Cada um doava o que tinha, lenha, gado, alimentos… No dia do cortejo, todos saíam para a rua para poder assistir a este que seria um grande evento e lá iam os carros de bois e as carroças pelas ruas a desfilar enquanto leiloava o que haviam angariado, que os com mais posses compravam e voltavam a oferecer para que voltasse a ser leiloado, outra e outra vez. Este dinheiro era entregue ao Hospital, tal como os bens recolhidos e usados para ajudar os mais desfavorecidos.

      Infelizmente não é possível datar o início nem o fim deste costume…

       Em Julho de 1978 é elaborado pelo Dr. António Duarte Arnaut, um despacho conhecido como "Despacho Arnaut" que antecipava o Serviço Nacional de Saúde (SNS), garantindo o direito fundamental à proteção na saúde e permitia a todos os portugueses o acesso gratuito aos serviços médico-sociais e aos hospitais, bem como à comparticipação dos medicamentos. 

        Por consequente, em Setembro de 1979,  é aprovada a Lei de Bases de Saúde n.º 56/79, de 15 de Setembro, nascendo o SNS. Assim, é criada toda uma rede de instituições e serviços prestadores de cuidados globais de saúde a toda a população, financiada pelos impostos. 

         É assim que em 1979, quase 92 anos após a sua inauguração, com as alterações na Saúde, deixa de fazer sentido a existência do Hospital Paroquial de Santo António do Couço e este encerra a sua atividade passando a ser apenas, Lar de idosos.

       Em 25 de Setembro de 1986, o lar faz o seu registo na Segurança Social e passa então a constar do nome de Centro Social Paroquial de Santo António do Couço.

CSPSA Couço

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